Filho bonito tem muitos pais
03/09/2015

O dito popular afirma que “filho feio não tem pai”. Mas é impressionante o número de pessoas que reivindicam a paternidade de uma cria bonita. Todo ano de eleição nos traz a bizarrice das propagandas políticas: os caras de pau de sempre, os oportunistas de plantão e as figuras condenadas pela Justiça aparecem com o ar mais angelical, pedindo os votos dos incautos. O pior é que muitos picaretas conseguem êxito, sendo eleitos e reeleitos inúmeras vezes.

Espertos como de costume, politiqueiros são criativos no momento de ludibriar os desinformados, e a arma dos candidatos em 2010 é o Projeto Ficha Limpa. Pelo menos um a cada três políticos em Minas menciona a valorosa iniciativa de lei no horário político e no material de campanha. Fica até a impressão de que a lei foi criada pelos políticos “bonzinhos”, para dar um corretivo em seus pares do mal.

O que precisa ficar claro é que o Ficha Limpa é uma iniciativa popular. Quem é responsável pelo projeto, um inegável avanço, é o cidadão brasileiro, que promoveu as assinaturas para que a reivindicação se tornasse lei. Foi a segunda vez em nossa história, infelizmente tão pouco, que o povo se mobilizou para criar algo parecido. A outra ocasião foi alavancada pela autora de novelas Glória Perez, que não aceitava o risco de os assassinos de sua filha, a atriz Daniela Perez, ficarem impunes. Glória se mobiliou por um abaixo assinado que recebeu milhões de adesões e mudou o Código Penal.

Embora tenha sido “costurado” pelos parlamentares quando chegou ao Congresso, o Ficha Limpa em sua versão final já traz os primeiros resultados, barrando as candidaturas de alguns fulaninhos aqui e ali. Ainda não é o que queremos, mas não deixa de ser um grande avanço. Cabe ao eleitor não se deixar levar pela lábia de candidatos desonestos, que querem colar suas imagens emporcalhadas em uma lei poucas vezes imaginada em nossa história. É só pensar no seguinte: político algum legislaria contra si. Como não houve formas de derrubar a vontade do povo, o jeito foi recorrer a outro dito popular: “se não pode com eles, junte-se a eles”.

Por outro lado…
Depois de elogiar os cidadãos brasileiros que lutaram pelo projeto de lei acima citado, é hora de puxar a orelha do “povão”. Na penúltima semana de agosto, humoristas de todo o país participaram de uma marcha no Rio de Janeiro em protesto contra a censura ao humor nas atuais eleições. Foi interessante ver a turma do “Pânico”, do “Casseta & Planeta” e do “CQC”, entre outros, levantar a mesma bandeira, num exercício de cidadania e democracia, independente do juízo de valor sobre o talento desses comediantes, aos quais, com poucas exceções, repulsa é o melhor sentimento.

Lamentável durante a manifestação foi ver a multidão que acompanhou os humoristas, sem ter a mínima noção do que estava acontecendo. Várias pessoas endossaram o protesto apenas para tirar fotos com os artistas e para chamar de lindos alguns deles. Uma pena. Muitos desses que protestaram, certamente, serão eleitores daquele palhaço em fim de carreira que concorre a uma cadeira na Câmara Federal por São Paulo. Assim como votarão naquele outro candidato que tem uma ficha corrida quilométrica, mas que jura ser o mais Ficha Limpa do Brasil. Por falar nisso, em quem os humoristas votam? Confesso que daria um braço para saber.