Estamos apressados ou com síndrome da pressa?
03/09/2015

Por Milton Pinto de Andrade
Presidente da AEA-MG

Converso muito com todo segmento da sociedade, aliás, sou um bom ouvinte. Convivo com pessoas jovens, de meia idade e pessoas mais velhas. Apenas para lembrar, recebo muitos aposentados todos os dias. Tenho notado que estamos muito apressados. Assim, é só reparar a intranquilidade: as pessoas estão nervosas, aquela calma de outros tempos desapareceu.

É só prestar atenção no trânsito, como tem sido o comportamento geral. As pessoas fazem coisas impossíveis, falam mal, xingam, buzinam e acreditam que só elas têm a preferência, ou razão, e que tudo gira em função delas. Não existe paciência, há irritação por pequenas coisas, motivos banais. Parece que todo mundo está correndo.

Fiz uma viagem recente a Ipatinga e pude perceber o quanto é perigoso transitar nas estradas brasileiras. Havia obras na pista, o que fez com que muitos ficassem parados por bastante tempo. Impacientes, vários ultrapassaram pelos acostamentos, o que mostra que o principal culpado pelas tragédias nas rodovias não é o governo, e sim a os cidadãos que querem resolver tudo na força bruta. A pressa desses motoristas é justificada?

Você já prestou atenção, no mês de abril, durante o período de entrega de imposto de renda? A correria é enorme. As pessoas se estressam mais ainda. E o final de ano, época de Natal, festas, formaturas, férias, etc.? É mesmo uma loucura, as pessoas estão irritadas, nota-se no semblante dos indivíduos.

Não existe dia normal para muita gente. Todos estão apressados. “Tenho um compromisso agora e já estou atrasado”; “o ônibus demorou”; “meu exame está na hora, e o médico não chegou”; “tenho uma audiência, um compromisso hoje”… São justificativas que se ouve aos montes. Ou seja, a pessoa já sai no horário do compromisso.

Nesse contexto, por incrível que pareça, está também o aposentado, acreditando ter preferência para tudo. Ele pensa que será atendido na hora agendada. Nas filas prioritárias de bancos, todos acham que tem preferência (há até mesmo discussões). Alguns nem agendam, pensam que o atendimento é garantido. Marcam uma consulta ou um exame e, às vezes, com atrasos insignificantes, reclamam, porque estão com pressa. Mesmo não havendo nada para fazer naquele dia.

A grande maioria não tem o hábito de ler, sob a mesma alegação: falta de tempo. Recebe uma informação, um jornal da AEA ou Forluz, e não toma conhecimento do conteúdo, pois a pressa não permite. Como diz o ditado: “a pressa é inimiga da perfeição”. Assim, deixam de saber sobre o que lhes diz respeito diretamente.

Muito desse estresse, nota-se, é causado pela falta de planejamento: não anotam os compromissos, deixam tudo para a última hora e acreditam que alguém resolverá aquela situação. As pessoas precisam se educar e se conscientizar das obrigações e deveres. Sair de casa mais cedo, contando que há obras na cidade; lembrar dos constantes engarrafamentos do trânsito e pensar no seu próprio bem estar. São medidas que podem reduzir esse sofrimento, num momento que deve ser de calma.

Tenho um amigo que adora falar que chegou atrasado aos seus compromissos, diz que não tem tempo para nada e que tudo deve girar em torno dele. Parece sentir orgulho disso, defende que é esperto por chegar atrasado, sempre com alguém para resolver as coisas dele. Seu atraso, na verdade, é uma irresponsabilidade para com os colegas.

Para vivermos tranquilos, sem estresse, precisamos sair de casa mais cedo. Nunca esperar que façam por nós. Assim, seremos mais serenos, felizes e alegres.