Nasci em Rio Doce, Arraial de Ponte Nova, Zona da Mata de Minas Gerais. La todas as pessoas eram portadoras de esquistossomo. “Na fase parasitária, ele vive geralmente nas veias que ligam o intestino ao fígado. A presença desses vermes e de uma grande quantidade de ovos pode provocar um rompimento dessas veias. Além disso, ocorre um aumento no volume abdominal devido ao crescimento desproporcional do fígado e do baço causado pelo vazamento de plasma através das veias rompidas. Por isso, este mal é também conhecida como barriga-d'água”.
“Entre outros sintomas deste mal, podem ocorrer: dores abdominais, cólicas, náuseas, inflamação do fígado e enfraquecimento do organismo.”
Só em casos extremos se fazia o tratamento do esquistossomo. Os medicamentos eram muito fortes e quem os ingeria ficava com graves sequelas. Administrar os desconfortos ao invés de eliminar as causas era o que a maioria das pessoas portadora deste mal preferia fazer. Eu mesmo sofri muito, principalmente para sair de casa. Um destes não raros transtornos que aconteceram comigo você vai ler a seguir.
Foi em cinquenta e nove a minha primeira viagem a Rio Doce após vir morar em Belo Horizonte. De Rio Doce a Ponte Nova viajei em uma jardineira (ônibus). A instalação sanitária ainda não era um item dos equipamentos de bordo deste veículo; nem mesmo do ônibus que fazia a linha Ponte Nova Belo Horizonte. Pelo menos eu nunca tinha viajado em um ônibus com instalação sanitária. Os locais onde os ônibus faziam as paradas também não tinham este conforto. Ao trocar a jardineira pelo ônibus em Ponte Nova não pude usar um banheiro. Contava com esta oportunidade porque já havia sentido pequenos sinais do meu intestino que recomendavam para minha maior tranquilidade este procedimento. Em casa, pouco antes de embarcar na jardineira, já havia ido ao banheiro por várias vezes; por estar viajando e, portanto, com alimentação diferente, precavia-me desta forma. Era muito tímido e na verdade foi a timidez que me impediu de pedir ao motorista do ônibus um tempo para eu fazer minhas necessidades. Justifiquei para mim mesmo que não era justo colocar os passageiros a me esperar para uma coisa que talvez fosse apenas uma neurose minha; experiências anteriores me faziam crer que um simples ato de tirar água do joelho (urinar) e/ou uma liberação de gases transitando pelo intestino resolvesse, pelo menos assim parecia. E para isto eu poderia usar o direito que qualquer passageiro tem de parar o ônibus por sete minutos onde precisar. Na verdade o que me levou a fazer um cavalo de batalha com coisa tão simples era, além do excesso de timidez, uma educação que me colocava sempre abaixo de todo mundo, não podia incomodar ninguém. O tempo para fazer a baldeação era pequeno e por estas questões acabei não indo ao banheiro. É isso ai! Contar com meu direito de parar o ônibus foi uma permissão moral para não enfrentar meus problemas emocionais. Evidentemente que segurar as pontas, eu estava poupando meus companheiros de viagem do dissabor de me esperarem, pois certamente não seria uma ação rápidas e, talvez, eu pudesse passar sem ela. Afinal de contas, já havia me prevenido o bastante, como era de costume, e resíduos remanescentes perdidos pelo intestino ainda estariam a caminho para se juntarem no ponto de escapamento; o que eu contava que não aconteceria dentro do tempo de viagem, entretanto, não demorou ficar claro para mim que não passaria incólume por ser um fraco emocionalmente.
Nessa ocasião eu não sabia que tinha uma alergia a gordura de porco que somada aos parasitas tinham o poder de formar uma tempestade fecal rápida e incontrolável. Importante dizer que não era do meu conhecimento que este ingrediente alimentar ainda era usado por minha mãe o que tornava minha situação mais complicada ainda, pois como era surpresa eu não tinha o antídoto. Tinha sim uma boa defesa criada a partir da minha experiência e observação dos meus conterrâneos portadores, somente, de verminose. Mas estas técnicas não valiam para as alergias.
Já muito desgastado, suando de nervoso e testando as forças da minha válvula de escapamento percebi, logo que o ônibus saiu da cidade, que aquele não era o meu dia. Senti a primeira contração forte e tomei consciência de que algo desagradável estava prestes a acontecer. Hora do parto chegara e que este, com muita sorte, teria que ser no mato e de cócoras ou assim que entrasse no banheiro da primeira parada. Virei para o meu colega de poltrona e, sutilmente falei: – Cara, mal posso esperar para chegar na parada porque preciso largar um “barro". Nesse momento, senti algo como se fosse um urubu beliscando minha cueca, mas botei a força anal para trabalhar e segurei a onda. Para meu desespero a válvula do tubo de escapamento começou a piscar. Cê me entende né?!…. Percebi que entre as piscadas vazava alguma coisa que molhava a cueca. Parecia um torpedo pedindo para ser disparado, vi que não daria para segurar por muito tempo. Suava em bicas. Meu amigo percebeu e, como bom amigo que era, aproveitou para tirar um sarro. O alívio provisório veio em forma de bolhas estomacais saindo no canal errado, indicando que pelo menos, por enquanto, as coisas tinham se acomodado. Só que fedeu pra caralho e a turma começou a procurar a fonte do odor que mais parecia ter destampado uma fossa. Tentava me distrair vendo a paisagem, mas só conseguia pensar em um banheiro, não com uma privada, mas com um vaso sanitário e apenas com a privacidade mínima, não precisando nem ser confortável ou até mesmo higienizado. Hi! Opa! Senti um volume almofadado entre meu traseiro e o assento do ônibus e percebi, consternado, que havia vazado qualquer coisa, agora sólida, que não conseguira controlar. Era quente, pastosa e úmida. Sem dúvida estava num situação periclitante. Fiquei tenso, juntei as nádegas com tanta força que tive a sensação de ter devolvido os rejeitos indesejáveis para sua procedência. A situação estava pela hora da morte. Olhei para o meu amigo, procurando um pouco de piedade, e confessei sério: "- Cara, caguei!". Quando meu amigo parou de rir, uns cinco minutos depois, aconselhou-me a relaxar, pois estávamos chegando numa vendinha de beira de estrada que, certamente, eu colocaria tudo sob controle. Dirigi-me ao motorista do ônibus e pedi para ele dar uma paradinha lá. Ele me disse: – não posso, lá não é ponto. Humilhado, expliquei para ele a situação. Ele então, sem piedade, me disse: – neste caso, paro, mas não posso esperar… – Que se dane, eu me viro depois; pensei. – Pior que isso não fica. ..Mal o ônibus entrou em movimento depois de me deixar, a cólica recomeçou forte. Arregalei os olhos, tranquei o butão e corri para a vendinha. Quando perguntei para o cara da venda onde era o banheiro, ele morreu de rir e falou: – amigo! Aqui nós caga é atrás das moita. Ha uma lá, e ele apontou para uma moita de bananeira que ficava numa pirambeira atrás da venda. Imagina chegar lá com as perninhas juntas e o butão trancado! Tentar eu tentei, mas não pude evitar. E sem muita cerimônia ou anúncio, veio mais uma aliviada da pressão interna pela válvula de segurança do tubo de escapamento. Uma leva de merda que teve direito a plateia e tudo. Desta vez, parecia mais um spray ou melhor dizendo um lança chamas em operação. Quando acabei, a plateia ria e o dono da venda esbravejava. Foi merda para tudo quanto é lado, borrando, esquentando e melando a bunda, cueca, barra da camisa, pernas, panturrilha, calças, meias e pés. Até a horta do cara que ficava longe ganhou. Acho que foi por isso que ele ficou tão agressivo. Teve que mudar a horta do lugar, pois limpar não valia a pena. E quando pensei que não havia mais munição veio uma cólica anunciando mais “porva”, agora líquida, das que queimam o fiofó do freguês ao sair rumo a liberdade. E depois um peido tipo rasgado, que eu nem tentei segurar. Afinal de contas, o que era um peido para quem já estava todo cagado?…Este estava mais para spray do que para lança chamas. Eu mesmo não fui atingido, mas o entorno, rá, nem te conto. Lembrei de um amigo que certa vez estava com tanta caganeira que resolveu botar modess da esposa na cueca, mas, sem pratica, colocou as linhas adesivas viradas para cima e quando foi tirá-lo levou metade dos pelos do rabo junto. Mas era tarde demais para tal artifício absorvente. Tinha expelido tanta merda que nem uma bomba de fossa poderia me ajudar a limpar a sujeirada. Um gaiato gritou no intervalo dos risos, vai se lavar no córrego que passa lá embaixo senão não vão te deixar entrar no ônibus. Pois bem, no caminho até o córrego fui catando jornal e papel que na roça se usa para embrulhar pão, sanduiche de mortadela, e que no local, perto da venda, se achava alguns. Depois de me lavar no córrego, fiz uma avaliação e constatei que tanto as meias quanto a cueca estavam inaproveitáveis. Lavando a barra da camisa e o cós da calça, poderia acabar de chegar sem provocar algum atentado ao pudor. Graças a Deus o sapato não foi atingido porque estava protegido pela calça descida pelas pernas abaixo. Peguei o próximo ônibus que até nem demorou muito. Roça, sabe como é né! ônibus para pra todo mundo e leva tudo que o freguês quiser. Primeira vez que dei sorte nesta maratona! Meu banho, até com muita água, mas não tinha sabão. Aí vocês podem imaginar o cheiro! Por causa do meu cheiro, o pessoal caiu de pau num grupo que pegou o ônibus pouco antes de mim e que levava algumas galinhas caipiras junto com eles; aquelas cuja principal alimentação é bosta de gente que caga no mato e para tal as galinhas usam os pés para espalhar a merda e pegar os detritos sólidos. Deviam estar trazendo de presente para os parentes aonde iriam se hospedar aqui em Belo Horizonte. Isso foi meu salvo conduto. A culpa do meu mau cheiro recaiu sob aquela comitiva que não foi incomodada porque eram muitos e ignorantes. Para quem chegou até aqui e não achou graça nenhuma, vai a compensação. Toda vez que viajar, leve um saco de lixo. Não pesa, não ocupa espaço, é impermeável, é barato e tem mil utilidades, inclusive resolve este tipo de problema. Você ensaca a bunda e viaja tranquilinho, tranquilinho… "Agora chega!…" Parem de rir da minha desgraça, isso é bullying, crime hein! Boto ocês na cadeia. E vão rir da pqp, pois o caso é para chorar!….
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